terça-feira, 17 de novembro de 2009

A Queda do Onírico Império?

Gostaria de agora reflectir um pouco sobre a visão do mundo monárquica, tentando um exercício psicanalítico e sociológico.

Reconheço alguma dificuldade em discutir-se este assunto de forma objectiva, pois a representação organizada da acção política visível em termos parlamentares foi o PPM (Partido Popular Monárquico), representado por dois deputados, integrados na representação parlamentar do PSD (Partido Social Democrático), que resultou das eleições legislativas de 2005. A representação imediatamente anterior cessou com a dissolução da AD (Aliança Democrática). Assim sendo penso que o pensamento monárquico político actual, tem como último terreno um território algo onírico e passadista, enquanto refúgio de uma realidade moderna e democrática que se recusa a entender. Concretamente este medo da modernidade manifesta-se inversamente a uma participação activa e massiva no contexto da sociedade actual, por um recuo que troca o anteriormente referido, por uma reflexão estética e estática, manifestamente romântica e nostálgica de um tempo pretérito que já não volta; seja este da sociedade seja do tempo filogénico de um eu omnipotente e infantil, um eu verdadeiramente mágico, que perante o Princípio da Realidade não agindo racionalmente, reforça as defesas egóicas, podendo chegar à paranóia, megalomania e agressividade. Concretizando e num contexto psicanalítico este estado de coisas corresponderia a um investimento narcísico no ideal do ego, agravado pela frustração do real. A fixação na pessoa do rei seria uma herança de um Complexo de Édipo mal resolvido, senão vejamos:
Ódio e inveja pela figura paternal (rei) – fantasias sádicas (in)conscientes – sodomização fantásmica do pai (rei) – sedução sexual da mãe (rainha). Situação análoga aparece miticamente no “Totem e Tabu” de Sigmund Freud, onde os jovens machos de um clã primevo, assassinam os machos mais velho e dominantes. Tal estaria na génese do sentimento de culpa da humanidade e no medo do castigo. Para apaziguar tais sentimentos o totem tribal é edificado.
Tal imaginário é povoado por figuras que principalmente aqui na Internet, se auto intitulam de “Lord”, esquecendo que é ao Instituto da Nobreza Portuguesa que compete atribuir tais títulos, olvidando muitos destes a tradição da onomástica portuguesa, preferindo nomes e títulos mais galicistas, ainda que pela traição dos valores nacionais que afirmam defender. Naturalmente que cada um tem o direito de renegar os epítetos que lhe dedicam e de se atribuir os que deseja. Não obstante é importante verificar se tal diz respeito a um acto individual ou aquele que é sancionado por um organismo colectivo de pares. Aliás quem se intitula de nobre ou mais especificamente rei ou imperador está a introduzir uma clivagem de valor na sociedade pelo título de nascimento, seja de ordem legal ou simbólica. Tal perante o paradigma de mérito universal democrático e republicano é inaceitável. Ainda assim enquanto republicano de terceira geração, e tratando lealmente o meu adversário, diria que nunca como hoje, no contexto da modernidade, a sociedade portuguesa foi permeável ao irracional. Tal é a atitude clássica em tempos de crise. O irracional não tem que tentar provar nada ou analisar, como este pobre artigo tenta. Basta ao mesmo fascinar e enfeitiçar. O movimento monárquico tem agora a oportunidade de pensar o que deseja, e de pensar como deseja apresentar o “seu desejo” aos (in)confessáveis desejos do povo português. E tem tempo para o fazer, pois não está directamente comprometido com o governo e perante os portugueses, seja como executivo ou oposição. O que também vai depender se conseguir esquecer certos egoísmos regionais e pessoais, sabendo integrar uma frente, ainda que eventualmente temporária, independentemente do cio protagonista.
O desvario fantástico é tão grande que até o satanismo é por vezes supostamente conciliável com uma nobreza que foi sempre católica. Aliás os teóricos do poder absoluto, legitimavam o poder do rei a partir de uma investidura divina. Note-se que tais casos particulares que apresento são indicativos e não demonstrativos, pois não conduzi nenhum estudo estatístico sobre o tema. Tão pouco me baseei num.
O referido medo da modernidade, não é naturalmente exclusivo da monarquia em si, sendo também constatado em pensadores como EVOLA e GUÉNON na senda de um pensamento tradicional, reconhecendo ainda que existem vários países que são formalmente democráticos, mantendo uma casa real. Admito, mas ainda assim penso que nem que seja a nível do simbólico, são democracias imperfeitas.
Enfim em ultima análise por muito que custe a vários sectores da monarquia e agrade a outros que lhe são estranhos ideologicamente, o debate “Monarquia ou República” não parece na ordem do dia, da opinião pública portuguesa.

Sem comentários:

Enviar um comentário