Escolhemos o século XIX
para o tema desta obra pelo seu carácter extremamente prolífico em termos de
edição jornalística. Nestes 53 títulos recenseados podemos encontrar um friso
palpitante da sociedade portuguesa à época, que no ritmo do dia a dia manifesta
os seus desejos, inquietações, interesses, problemas e polémicas. Ontem como hoje a existência de uma imprensa
e vector fundador de uma sociedade que se interroga sobre o seu papel e destino
colectivo, não será assim surpreendente que possam encontrar-se nítidos
paralelos com os dias de hoje.
Não é assim em vão que
questões como a liberdade de imprensa sejam já abordadas na primeira metade do
século XIX, aguardando-se pela revolução 1820 (Decreto de 31 de Março de 1821)
para cair a censura civil (imposta por decreto de Pina Manique em 1803) e a
religiosa praticada pela Inquisição, regressando a censura prévia em 1823, sendo
novamente abolida em 1826. Regressa em 1833 por Decreto-Lei de Joaquim António
de Aguiar; em 1834 é novamente suprimida, reposta em 1840, sendo formalmente
restabelecida a liberdade de imprensa em 1850., voltando a censura em 1890 e
1896, conhecendo-se algum alívio em 1898.A partir de 1851, surge de forma
decisiva uma imprensa científica, herdeira do pensamento iluminista,
acompanhando a Regeneração. Começa também a clarificar-se o papel e
responsabilidade social da figura do jornalista, concomitantemente ao
aparecimento de uma opinião pública. Para tudo isto contribui o movimento
liberal, defensor da igualdade cívica e da existência de um regime político
representativo. Com as sucessivas Constituições, respectivamente de 1822, 1826 e
1838 é também o Estado que se repensa tendencialmente segundo o modelo romântico
ou seja a visão burguesa do mundo, e as suas aspirações no que diz a liberdade e
a direitos, surgindo um novo actor social e leitor, ou seja o povo na sequência
do alargamento dos primeiros. Jornalismo informativo, jornalismo político, onde
se debatem as ideias para a nação e com a nação, jornalismo de massas também que
chama a si, uma diversidade de anúncios publicitários, que ostentam as últimas
novidades estrangeiras e nacionais.
As invasões napoleónicas de 1807, 1809 e 1810, trouxeram
consigo o ideário iluminista, que vai conhecer um
amplo debate em Portugal, opondo-se ao trono e altar, defendidos pelo
absolutismo, confunde-se assim o carácter noticioso com o cariz político. Em
1807, a fuga da família real para o Brasil, vai fomentar o aparecimento da Gazeta do Rio de
Janeiro (1808-1822). A conjuntura das guerras napoleónicas vai
aumentar decisivamente o interesse pelo que se passa na Europa. No contexto das
lutas liberais, existem jornais para ambos os partidos. Do lado absoluto temos
títulos curiosos como A Besta
Esfolada, O Cacete, A Defesa de
Portugal, A Contra Mina
e o Mastigoforo. A imprensa liberal exilada replica
com títulos como: O Correio
Interceptado (1825-1826), O Cruzeiro ou Estrela
Constitucional dos Portugueses 1826-1827) e O
Português Emigrado (1828-1829). Com o triunfo da
causa liberal em 1834, pululam periódicos populares como o Periódico dos Pobres
o Periódico
dos Pobres no Porto (Porto, 1834), o Periódico
do Pobre (Lisboa, 1837), o Dez
Réis – Jornal de Utilidade (1841), o Jornal
de Utilidade Pública (1841) e ainda
O
Cinco Réis. Em
1837
são criadas novas restrições ao exercício da liberdade de imprensa, tendo
os editores de jornais preencher condições de idoneidade, e um valor mínimo para
os seus bens para suportar multas judiciais e indemnizações. Em 1842 sob o
governo de Costa Cabral acontecem julgamentos sumários por abuso de liberdade de
imprensa, impedimento da circulação de periódicos por correio, e destruição de
topografias.
A revolta popular da Maria
da Fonte, em 1846, e a guerra civil da Patuleia, entre 1846 e 1847, levaram à
interdição dos jornais de combate.
Em 1850, nasce a famosa Lei das Rolhas que limita a
liberdade de imprensa, tal origina inúmeros protestos, sendo revogada em 1850.
Com a Regeneração, depois do golpe militar do Marechal Saldanha, cai o governo
ditatorial de Costa Cabral, e entre 1851 e 1866 regressa progressivamente a
liberdade de imprensa. Sustentados pela iniciativa privada, surgem jornais de
massas, com tiragens substanciais, preços baixos sustentados pela publicidade,
seguindo-se uma linha de objectividade, da qual o Diário de
Notícias é um exemplo. A imprensa é encarada como um negócio,
seguindo uma filosofia industrial. As pequenas redacções animadas por propósitos
políticos, dão lugar a vários profissionais,
profissionalizando-se a função do repórter, em detrimento do polemista.
Novidades como o telégrafo e o comboio, concorrem para
a divulgação rápida da notícia e dinamização dos periódicos. Surgem as primeiras
agências noticiosas. Dentro da linha referida surgem título como O Diário
Popular e o Jornal de
Notícias ambos em 1866, atentos à realidade local nacional e
internacional
oi
ResponderEliminarOlá bem vindo...
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