segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019
quarta-feira, 16 de abril de 2014
quinta-feira, 21 de março de 2013
No Serro do Montado
(Fonte foto: um bis-branco)
No serro do montado
Balança o corpo do enforcado
Corpo triste, abandonado
No chão o chapéu breve, amarrotado
Lado a lado as mãos
solitárias
Sem afago leves e
soltas
já não desejam ser
outras
Agora inúteis e
ignaras
Morte que dás o
sentido
Vivemos na tua
sombra e olvido
se um dia o nosso
mortal passo,
demasiado se adianta
Vens como a primeira
das mães,
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
O ANTÓNIO MARIA
O António Maria
Autores; Pinheiro, Rafael Bordalo
Lisboa Typografia A Editora 1879-1898
Descrição Física: 32 cm
Periodicidade: Semanal
Cota Biblioteca Nacional: 070.487 (05)
741.5 (05)
A primeira página do
número de 12 de Junho de 1876, é realçada por uma exuberante capa. Uma jovem
burguesa lê o periódico de onde brotam personagens de Bordalo, também aqui
representado, como o Fagundes;
o Psit e o Arola. Estes resultam da
estada do artista no Brasil e da sua observação da vida carioca. Fagundes é uma barriga metamorfoseada de deputado e
aventureiro político. Arola e Psit. são uma dupla,
reflexo de Sancho e do seu fidalgo D. Quixote. Da presença no referido pais,
ficam as revistas Psit!!!
(1877) e O Besouro (1878-79).
Por último o Zé Povinho dispensa apresentações. Figura
iconográfica do mostruário bordaliano, representa o povo português e o seu sentido crítico e
irónico perante as injustiças sociais
No editorial de abertura o António Maria
pretende ser a syntese
do bom senso nacional tocado por um raio alegre d’esse
bom sol peninsular
Esta frase resume bem a
alegria e a fantasia da escrita que o caracteriza, apresentando um quotidiano
diferente da objectividade noticiosa, marcado pela sátira, boa disposição,
mestria técnica das sinuosidades do texto e do lápis. Será assim na sua ambição
e sinceridade, oposição do governo e oposição das oposições, num vasto arco de
sensibilidade humorística. Apela assim a diversidade das contribuições a todos
abertas, não esquecendo a necessária cortesia e amabilidade, principalmente
entre senhoras, sendo tutelados pelas figuras de António o
Justo e Maria mãe de Cristo, quanto à graça que se pede e deseja, de modo a reproduzir a silhueta
da sociedade portuguesa no último quartel do século XIX. Tal afirmação
demonstra à saciedade a consciência do exercício humorístico, enquanto força
explicativa e desencadeadora dos fenómenos
sociológicos. Utilizando jogos de palavras constantes a propósito do nome do
periódico diga-se que este se inspira em António Maria Fontes
Pereira de Melo (1819-1887), chefe do partido regenerador,
presidente do Conselho de Ministros, e detentor de várias pastas ministeriais. Destacou-se
pela sua acção de melhoramento das vias de comunicação viárias e rodoviárias,
Criou o ensino industrial e organizou o agrícola.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
BALAS DE PAPEL
Balas.. de
papel/Gualdino Gomes e Carlos Sertório
Numeração: N. 1 (30 Nov. 1891)-n.
4 (31 Jan. 1892)
Publicação: Lisboa : Imprensa de Lucas
Evangelista Torres, 1891-1892
Descrição Física: 21 cm
Periodicidade: Bimensal
Cota Biblioteca Nacional: L. 3427//3 A.
Gualdino Gomes (Lisboa 1857 – 1948) Diplomado no Curso
Superior de Letras, viveu algum tempo no Brasil, sendo
admitido como bibliotecário na Biblioteca Nacional de Lisboa em 1891. Autor da
revista A Tourada, em conjunto com Marcelino Mesquita, que subiu à cena em 1894. Em 1921 adere
ao Grupo da Biblioteca, liderado por Raul Proença. Foi director interino da Biblioteca Nacional.
Foi também poeta, ainda que tenha apresentado uma produção escassa e Carlos
Sertório, são os autores desta publicação.
Esta revista
ostenta na capa uma citação de Camilo Castelo Branco, …
palavras contra a péssima ordem das coisas sublunares. Segue-se uma homenagem a Fialho de
Almeida, ou José Valentim Fialho de
Almeida (Vila de Frades, 7 de Maio de 1857 — Cuba, 4 de Março
de 1911), jornalista e escritor pós-romântico português, que na sua obra Os Gatos, composta por crónicas entre 1889 e 1894, apresenta
um retrato satírico da vida nacional. A Balas...., assume-se como revista satírica, ao não
pretender levantar o mundo como Arquimedes, mas sim… endireitá-lo.
Qual o legado
passados mais de 100 anos? Pensamos que o que ainda resulta neste texto é o
carácter pugilista do seu humor, breve e contundente, assim como a atenção do
detalhe da vida quotidiana, a saber a voz do que se diria nos cafés e nas ruas.
Tal sensibilidade será porventura a que nos é mais distante pois aquilo que é
óbvio para uma determinada cultura, num determinado espaço temporal, raramente
se preocupa em conferir chaves interpretativas para o provir. São reconhecidas
as personagens colectivas dos políticos, artistas e notáveis, cuja vaidade e
misérias são sovadas, sem qualquer pretensão aos jogos de linguagem e
sofisticação humorística; mas já nos escapam os nomes e os pormenores. E este o seu derradeiro mérito se
acreditarmos que mutatis mutandis não muda a natureza
humana, nem a singular honestidade do ridículo posto a nu., também pelo relato
dos costumes, modos de ser e de estar; de um tempo e lugar, que não estão assim
tão distantes de nós. Vox Populi, a cuja visão periférica
nada escapa.
domingo, 24 de fevereiro de 2013
ANNAES ADMINISTRATIVOS E ECONÒMICOS
Annaes administrativos e economicos
Lisboa, Typografia do Jornal de Commercio, 1855.
Descrição física; 26 cm.
Apenas dois números
publicados. Editado pela Câmara Municipal de Lisboa. Segundo o paradigma liberal,
preocupa-se em divulgar perante os cidadãos, a actividade da Administração.
Esta ganha relevo desde a Revolução Francesa e revoluções liberais, no âmbito
da separação de poderes. Em Portugal este princípio concretiza-se no decreto nº
23, da autoria de Mouzinho da Silveira, que consagra a centralização da
autoridade do Estado, de 16 de Maio de 1832. Tal diploma divide o Reino em
províncias, comarcas e concelhos, cuja direcção é atribuída a administradores: Prefeitos, Sub-Prefeitos e
Provedores, nomeados pelo Rei, sendo assistidos por Juntas electivas. Note-se
que a divisão mínima do território, a paróquia, nem sequer é mencionada. Esta
atitude do legislador é explicada a partir da herança de uma diversidade
feudal, e de uma dispersão legislativa; no contexto de uma guerra civil, o Estado
procura assim definir as suas funções com exactidão perante os cidadãos,
segundo a racionalidade e organização. A Administração é o cimento que integra
então todas as partes de um corpo social, segundo o bem comum, enfatizando-se a
autoridade do Estado como princípio unificador.
Sendo editada pela C.M.L. o
alcance da publicação transcende o interesse local, ao projectar-se no domínio
nacional. Destaca-se ainda a visibilidade pública, na medida em que os Annaes, no seu programa
defendem princípios de transparência e consulta pública, dos actos
administrativos que seriam atempadamente publicados. A linguagem administrativa
deve ser própria, os poderes da governação correctamente definidos nas suas
fronteiras, reconhecendo-se que muitos cidadãos ignoram ainda esta temática e a
sua importância cívica, independentemente de serem os sustentáculos do poder do
Estado. São aliás estes os princípios da Constituição de 1822, e mesmo da Carta
Constitucional de 1826, ainda que esta divida a soberania entre o Rei e a
nação. Importa no entanto o cuidado de não fazer uma leitura precipitadamente
moderna destes assuntos, pois ambos os textos colocam limitações ao direito de
eleger e de constituir-se como representante. A própria produção legislativa encontrava-se
à data dispersa pelas Ordenações Afonsinas (1446/1454); Ordenações Manuelinas
(1512-1520), modificadas em 1526, 1533 e 1580 e Ordenações Filipinas (1603).
Tal só vai cessar com a entrada em vigor do Código Civil de 1867. Quanto a
códigos administrativos temos o primeiro em 1836 por Passos Manuel.
Tentando concluir, esta publicação corresponde à
consolidação de realidades modernas no domínio do Estado e da sua relação com
os cidadãos, perante a desintegração das sociedades de Antigo Regime. Ainda
assim a publicação conheceu uma existência efémera, cujo epitáfio aparecerá em
1856 nos Annaes do Município de
Lisboa, atribuindo a sua extinção à falta de interesse público. Fica
aqui a pequena homenagem pelo esforço eventualmente prematuro de transparência,
diálogo e pedagogia cívica, que continua naturalmente tão actual, como na segunda
metade do século XIX.
sábado, 23 de fevereiro de 2013
A ARTE PORTUGUEZA
A arte portugueza : revista mensal de bellas-artes
/ Centro Artistico Portuense
Numeração: n. 1 (Jan. 1882)/
n. 12 (Mar. 1884)
Porto : C.A.P., 1882-1884
Periodicidade: Mensal
O Centro Artístico Portuense, foi fundado em 1879, com os estatutos a serem aprovados em
1880. Tinha como objectivo promover o desenvolvimento intelectual e artístico, e
a educação do gosto tanto das artes plásticas como das industriais (relativas a
objectos artísticos em madeira e metal, tanto fabricados à mão como à máquina).
Era esta a sua revista, que tinha o seu conselho de redacção composto por:
Parte artística:
Thomaz Augusto Soller , (1848 - 1883), arquitecto
nascido no Porto, estudou Pintura e Escultura, assim como Arquitectura Civil.
Dedicou-se ao ensino, desenho e à arquitectura. Projectou uma cúpula para a
igreja da Trindade (Porto); António
Soares dos Reis, escultor (Vila Nova de Gaia 1847 - 1889), artista
conceituado, entre as suas obras mais conhecidas contam-se: O Bêbado, Flor Agreste,
uma estátua de Avelar Brotero, (1887) e finalmente os
pintores João Marques da Silva
Oliveira (Porto 1853 – 1927), pintor naturalista e professor.
O naturalismo enquanto escola filosófica opõe-se ao subjectivismo e idealização
romântica, na pintura escolhe representar objectos realistas, numa cena
natural; António José da Costa (Porto 1840
– 1829) dedicou a sua carreira ao retrato e à paisagem, sendo o seu
reconhecimento obtido a partir da pintura de flores.
Parte Literária:
Manoel Maria
Rodrigues (Porto 1847 – 1899) Jornalista do Comércio do Porto. Escreveu A Rosa do
Adro, publicada em 1870. Também escreveu vários libretos para
operetas incluindo Na Lua. Foi
arqueólogo amador e crítico literário; Joaquim António da Fonseca
Vasconcelos (Porto 1849 – 1936), historiador e crítico de arte,
contribuiu para o entendimento da História da Arte em Portugal, enquanto
ciência com objecto e método próprios.
Neste primeiro número
podemos ver um plano didáctico, para um curso de Desenho Graduado e Modelação,
que rejeita o postulado dos processos mecânicos auxiliares do desenho,
defendendo o uso da mão e vista, convenientemente educados. O objectivo não
seria o de uma reprodução servil, mas sim de uma imagem. Caminha-se assim na
direcção da modernidade artística ao valorizar-se a subjectividade artística. Note-se
que à data da publicação deste número, a fotografia já era usada regularmente
em Portugal destacando-se os trabalhos de Carlos Relvas,
que na sua extensa galeria fotografa mendigos, pescadores, e figuras notáveis.
Fotografou também o Tejo e o nu feminino.
Finalmente, temos a
polémica sobre a existência de uma arte portuguesa anterior à romanização na Citânia de Briteiros, à qual responde Francisco Martins de Gouveia Morais
Sarmento (Guimarães 1833 – 1899) arqueólogo e
escritor, problematizando as suas origens.
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